Como o cérebro processa idiomas desconhecidos

Entenda a reação neural ao ouvir línguas que não dominamos

Pesquisadores analisam como o cérebro responde a idiomas que não conhecemos e o papel crucial da familiaridade auditiva.
Quando ouvimos alguém falando uma língua que não dominamos, o cérebro pode ter dificuldade em interpretar os sons. Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco (UCSF), trouxeram novas luzes sobre como o cérebro humano reage a idiomas desconhecidos. Dois estudos recentes elucidam o papel do giro temporal superior (GTS) na identificação de palavras e na percepção auditiva, aspectos que são fundamentais para o aprendizado de línguas.
A função do giro temporal superior na percepção auditiva
Os estudos indicam que o GTS, conhecido por processar sons básicos como vogais e consoantes, também desempenha um papel crucial na detecção de padrões sonoros. Isso é particularmente importante para entender como as palavras são separadas em um idioma familiar. Ao contrário do que se pensava, a habilidade de distinguir palavras não se baseia apenas na interpretação de significados, mas sim na experiência acumulada ao longo dos anos. Essa região do cérebro possui neurônios que aprendem e reconhecem sons ao longo da vida, permitindo que identifiquemos o início e o fim das palavras. Esse processo, no entanto, não ocorre quando ouvimos uma língua desconhecida.
Ativação neuronal em idiomas conhecidos versus desconhecidos
Em um estudo publicado na revista Nature, voluntários monitorados para epilepsia foram expostos a frases em inglês, espanhol e mandarim, algumas em idiomas que conheciam e outras em línguas que não dominavam. Os resultados foram reveladores: a atividade neuronal dos participantes mostrava uma resposta imediata em idiomas que conheciam, enquanto em idiomas desconhecidos, a ativação era praticamente nula. Essa descoberta ajuda a explicar por que escutar um idioma estranho pode soar como um grande borrão auditivo.
O processo de adaptação do cérebro à fala
Outro estudo, publicado na revista Neuron, revelou que o cérebro se reorganiza rapidamente a cada nova palavra que é ouvida. Essa “reinicialização” permite uma compreensão mais eficiente durante a fala rápida, comum em conversas fluentes. Os pesquisadores ficaram surpresos ao descobrir que o cérebro reinicia a percepção quase instantaneamente, o que é vital para acompanhar diálogos rápidos. O reconhecimento de palavras não é apenas sobre vocabulário, mas também envolve adaptação neural a novos padrões sonoros.
Implicações para o aprendizado de idiomas
Essas descobertas têm implicações significativas para quem está aprendendo um novo idioma. Aqui estão alguns pontos-chave a serem considerados:
- O cérebro só consegue separar palavras com base em padrões sonoros conhecidos.
- Não ocorre ativação neuronal em línguas desconhecidas, dificultando a compreensão.
- A “reinicialização” a cada nova palavra facilita o entendimento em ritmos rápidos de fala.
- A percepção auditiva melhora com a exposição contínua a um idioma.
- O aprendizado de uma nova língua exige tempo e prática, não se limita à memorização de vocabulário.
Esses achados reforçam a ideia de que a familiaridade auditiva é essencial para o aprendizado de línguas. Compreender um novo idioma vai além de conhecer palavras e gramática; envolve um processo profundo de adaptação cerebral a sons e ritmos que, inicialmente, podem parecer confusos e indistintos.






