Fed deve cortar juros, mas incertezas sobre o futuro permanecem

Divergências entre economistas sobre a continuidade da flexibilização monetária

O Federal Reserve deve decidir pelo corte de juros nesta quarta-feira (17). Economistas divergem sobre os próximos passos.
O Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), deve decidir pelo corte de juro nesta quarta-feira (17), de 0,25 pontos base, saindo de 4,25% a 4,50% para 4% a 4,25% – aposta de 96,1% do mercado, de acordo com a ferramenta de monitoramento CME FedWatch. Com essa tendência quase de consenso amplo, a dúvida dos economistas, agora, paira sobre o ritmo dessa flexibilização monetária.
Dados de emprego apontam desaceleração, com uma menor criação de vagas do que o esperado e maiores pedidos de auxílio desemprego. Já a inflação sobe nos itens mais sensíveis às tarifas de Donald Trump, e desacelera nos demais componentes. Esse quadro geral favorece um início de corte mais cauteloso, para estimular o mercado de trabalho, e afasta a chance de um corte maior, de 50 pbs, o que poderia pressionar ainda mais a inflação, avaliam os economistas.
Se o início do corte é praticamente certo, a sequência da flexibilização da política monetária gera diferentes opiniões entre os agentes do mercado. Segundo José Alfaix, economista da Rio Bravo Investimentos, a gestora trabalha com a projeção de corte de 0,25 p.p. nesta quarta, seguido de pausa na próxima reunião, em novembro, e depois mais um corte, em dezembro. O mesmo cenário está sendo trabalhado na Suno Research, segundo o economista Rafael Perez.
Já na XP Investimentos, a tese é de três cortes ainda em 2025 – em setembro, novembro e dezembro – projeta o economista Rodolfo Margato. A WHG, gestora de grandes fortunas, também trabalha com a probabilidade de três cortes, de acordo com Fernando Fenolio, economista-chefe da casa. Esta também é a posição da Dom Investimentos, segundo Thiago Calestine, economista e sócio da gestora.
No geral, o mercado prevê 75% de chance de três reduções de 0,25 p.p. até o final do ano. Se confirmados, os cortes colocariam a taxa de juros dos EUA entre 3,5% e 3,75% até dezembro.
“A economia americana está em um ponto perigoso, com uma inflação que não cai e um desemprego que sobe. A autoridade monetária acaba ficando um pouco em corner. Ou ela fecha o olho para a inflação e olha para o desemprego – e corre o risco desta inflação subir –, ou freia demais a economia e deixa o mercado de trabalho ainda mais fraco”, avalia Calestine.
Nas análises do especialistas, foram os dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos que trouxeram o consenso de que o Fed fará o corte de juros na reunião desta quarta-feira. O payroll mostrou a criação de 22 mil novas vagas em agosto, bem abaixo do esperado, já que a projeção era de 75 mil novas vagas. Outro dado que chamou a atenção foi a revisão que apontou 911 mil vagas a menos do que havia sido computado até março deste ano. Já a taxa de desemprego de agosto aumentou na margem, de 4,2% para 4,3%, o maior valor desde 2021.
Pelo lado da inflação, o CPI, índice que mede os preços ao consumidor dos EUA, subiu 0,4% em agosto, mais do que o esperado, e o aumento anual da inflação foi o maior em sete meses. Já o PPI, que pede os preços ao produtor, caiu 0,1% em agosto, o que deu a Trump ferramentas para voltar a pressionar Fed em relação ao corte de juro.
“O Banco Central dos Estados Unidos tem dois mandatos: emprego e inflação. A depender do momento, ele olha mais para um ou outro. Nos últimos anos, ele olhou muito para a inflação, mas os dados de trabalho e a revisão de criação de vagas pegou muita gente de surpresa, porque mostra que o mercado de trabalho está perdendo dinamismo de forma mais rápida do que se esperava”, afirma Rafael Perez, economista da Suno.
Para Perez, o “pulo do gato” na discussão do mercado será em relação a cortes sucessivos ou cortes com pausa. “A gente não acredita que vão ser três cortes até o final do ano. Vai ser um corte, uma pausa, e outro corte em dezembro”, afirma Perez.
O que está por trás desta análise é o desafio da inflação, segundo o economista. “Apesar de estarmos vendo o mercado de trabalho arrefecendo, se a gente olhar para a inflação ela está resiliente, rondando 3%, acima da meta do Fed, e a gente está em um contexto de guerra comercial, de guerra tarifária, o que adiciona mais riscos à inflação”, diz.
Já Rodolfo Margato projeta três cortes, atribuindo principalmente à perda de fôlego do mercado de trabalho. “Há dois meses, mais ou menos, a nossa visão era de que o Fed cortaria no máximo duas vezes a taxa de juros até o final de 2025. Hoje, a visão é de que ele cortará pelo menos duas vezes. É uma mudança importante”, afirma.
Thiago Calestine, da Dom Investimentos, alerta para a política anti-imigração de Donald Trump e os reflexos nos números do mercado de trabalho. Segundo o economista, a fechada de cerco à migração, tanto legal quanto ilegal, deu resultado e o número de imigrantes na economia americana caiu. “Se você tem uma migração menor do que tinha, naturalmente você terá uma taxa de empregabilidade menor também, porque tem menos gente entrando na economia americana. É natural que a economia construa menos vagas”, avalia.
Por isso, a próxima reunião do Fed será relevante para saber os rumos da economia americana. Para Alfaix, o corte de juro em um balanço de risco que ainda pende para a inflação deve ser feito de maneira cautelosa e progressiva e, por isso, o Fed deve adotar uma postura de corte e observação. Para o economista da Rio Bravo, o risco de aumento de preços para o consumidor no final do ano está sendo subestimado e os próximos dados podem mostrar uma melhor fotografia de como está o mercado de trabalho e a inflação.
Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, reforça a aposta em três cortes ainda em 2025 devido aos indicadores de desaquecimento da economia. Ela afirma que o comunicado deve evitar dar sinais muito claros dos próximos passos, já que o balanço de riscos é delicado, com possibilidade de estagflação. Zogbi destaca que a reunião contará também com a publicação do “dot plot” [o gráfico de pontos], indicando as projeções dos membros para os juros no futuro. “Sinais de que os membros decisores da política monetária veem menos espaço para cortes do que o mercado antecipa podem criar estresse na curva de juros e nos ativos de risco, já que parte do rali recente se apoia nas expectativas de um afrouxamento relevante da política monetária”, destaca.
Andressa Durão, economista do ASA, avalia que o comunicado do Fed não precisará revisar a projeção de inflação de 2025 para cima, já que os dados de agosto sugerem um núcleo de PCE [o índice de inflação do consumo] benigno. Já o PIB pode sofrer revisão para cima, considerando as últimas revisões trimestrais altistas. Na coletiva, Jerome Powell deve afirmar que os dados mais recentes reforçaram a percepção de maior risco de deterioração no mercado de trabalho, levando o Fed a reconhecer um novo equilíbrio de riscos que justifique a necessidade de reduzir a taxa de juros em direção ao nível neutro, avalia Durão.
Notícia feita com informações do portal: www.infomoney.com.br