Do Arraial Comunitário ao Gigante Cultural: A Evolução do São João de Campina Grande

O São João de Campina Grande, na Paraíba, transcendeu suas origens comunitárias para se consagrar como um dos maiores eventos juninos do mundo. No coração da festa, o Parque do Povo se prepara para receber milhares de pessoas no dia de São João, com shows de renomados artistas como Waldonys, Ton Oliveira e Geraldo Azevedo, marcando o ápice de uma celebração que evoluiu ao longo das décadas.
Até meados dos anos 80, a festa junina em Campina Grande, assim como em outras cidades nordestinas, era uma celebração modesta, organizada pelos moradores em frente às suas casas. Fogueiras, ruas decoradas e apresentações improvisadas de forró em palhoções eram a essência dessa festividade comunitária.
A transformação começou em 1983, quando a prefeitura assumiu a organização da festa, ainda de forma singela. Três anos depois, o então prefeito Ronaldo Cunha Lima profissionalizou o evento, investindo na infraestrutura e construindo o Parque do Povo, que se tornaria o palco principal do “Maior São João do Mundo”.
Atualmente, o evento se estende por 38 dias, atraindo mais de 3,5 milhões de pessoas e injetando cerca de R$ 740 milhões na economia local. “Não existe nada igual no Brasil, porque são 30 dias de festa ininterrupta, com a participação dos campinenses de todas as camadas sociais”, destacou um ex-prefeito, refletindo o impacto cultural e econômico da festa.
O Parque do Povo, com sua estrutura que lembra um grande festival de música, oferece uma experiência completa aos visitantes. Palco principal, palcos paralelos, áreas para apresentações de quadrilhas juninas, praça de alimentação com mais de 400 pontos comerciais e estandes de marcas compõem o cenário da festa, que se renova a cada ano.
Para muitos, o São João de Campina Grande é mais do que uma festa; é uma oportunidade de trabalho e renda. O empresário José Ventura Barbosa, dono da Bodega do Ventura, que marca presença no Parque do Povo desde 1994, testemunhou o crescimento da festa e o aumento das vendas, necessitando contratar 15 funcionários extras para o período.
Kainã Garcia, garçom na Bodega do Ventura, exemplifica a importância do evento para a população local. “A gente brinca aqui que, em janeiro e fevereiro, a gente já pode pedir dinheiro emprestado porque sabe que vai poder pagar em junho”, revela, demonstrando a expectativa e a segurança que o São João proporciona.
A música também passou por transformações, com a inclusão de ritmos como eletrônico, brega, calypso, trap e rap, dividindo espaço com o tradicional forró. Essa diversificação gera debates, mas atrai um público mais amplo, especialmente os jovens. “Eu acho que o São João é uma festa popular, tem espaço para o que é música popular no geral, não importa o gênero”, defende o administrador Mateus Ernesto.
Além da diversão e dos shows, o São João de Campina Grande representa a valorização da cultura nordestina e a transmissão de tradições para as novas gerações. A bióloga Juliana Soares, que fez questão de levar sua filha para participar da quadrilha junina infantil, resume o sentimento de muitos: “Quando a gente vem com criança, a gente quer passar isso também, passar essa tradição pra frente, para que ela [a criança] tenha orgulho de ser nordestina”.
Assim, o São João de Campina Grande se consolida como um evento que une tradição, modernidade, cultura e economia, reafirmando a identidade nordestina e proporcionando momentos inesquecíveis para moradores e turistas.
Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br